Resenha: Minha versão de você, um livro que não deixa a desejar.
- Fernanda Cidade Gonçalves
- 26 de mar. de 2020
- 5 min de leitura
ALERTA! CONTEM SPOILERS! mas não muitos.

O livro conta a história de Tanner Scott e Sebastian Brother, dois garotos que se apaixonam no meio de circunstâncias não muito favoráveis para ambos, especialmente para Sebastian.
Tanner é um garoto da Califórnia que se muda com seus pais e irmã para Utah, e ele acaba indo estudar em uma escola mórmon, já que moram em uma cidadezinha composta majoritariamente por pessoas mórmons. Isso não seria um problema se Tanner não fosse bissexual.
Sebastian é mórmon, nascido em Utah, filho do Bispo, e um jovem escritor. E gay.
Eles se conhecem nas aulas de Seminário do professor Fujita, que tem a intenção de fazer os inscritos despertarem para a escrita, o que foi que aconteceu com Sebastian um ano antes de Tanner entrar para o Seminário, e durante a linha temporal do livro, Sebastian é assistente de Fujita. Tanner se sente atraído por ele (Sebastian) logo no começo do livro.
Depois dessa breve introdução, vou me afundar mais nos personagens e na história em si.
Honestamente, na minha opinião, a família de ambos possui uma importância muito grandiosa no livro, e também existem Autumn, que é melhor amiga de Tanner desde que ele havia se mudado para Utah há alguns anos antes da história narrada no livro.
O livro se passa em primeira pessoa até um pouco depois do capítulo vinte, que quem narra é Scott, logo após no final temos uma breve visão de como eram as coisas na cabeça de Brother.
Achei interessante essa forma, foi uma surpresa saber que teria uma visão, mesmo que escassa de Sebastian no livro e que não seria tudo na cabeça um tanto ilusória de Tanner. Porém não é total culpa de Tanner ter alguns pensamentos ilusivo, já que até metade do livro, Sebastian não deixava nada muito claro sobre como eram a relação que tinham.
Tanner, para mim, é de longe o mais complexo, ele é bem resolvido e comete alguns erros, igual muitos seres humanos, mas não acho que tenha aquela complexidade monstruosa que Sebastian tem. Desde cedo, Scott já sabia quem era e era aceito no meio que vivia, não possuía uma religião lhe impondo seu destino como foi o caso de Brother, mas ainda assim é um personagem fascinante de se ler, já que a autora soube muito bem como expressar os sentimentos de Tanner, que conforme não sabia dizer se namorava ou não Sebastian, viraram uma completa confusão. Foi incrível ver também a desconstrução de intolerância religiosa que tinham, mesmo que miníma se ir embora, após entender mais sobre a vida dos mórmons. Ele sabia como funcionava mas não o suficiente já que sua mãe evitava seu passado como integrante mórmon, e seu pai é judeu, então com essa diversidade a intolerância não era estrondosa nem tão incomodativa, era mais uma falta de informação. E, claro, como ele faz parte do Seminário, escreveu um livro. Sobre as experiências dele e de Sebastian. O que não é muito bom lá pro meio e final da história.
Já Sebastian é outra história para minha pessoa, de todos os personagens sem dúvidas o mais complexo, confuso e solitário de todos. Ele sempre se retraiu por ter medo da reação de seus pais, principalmente do pai, se tornando confuso com o que sentia e sempre tentando agradar as pessoas em volta dele o tempo todo. Bom moço, como descrevem no livro, centrado e caridoso. Realmente, o personagem demonstra ser duas dessas três coisas, bom moço e caridoso, mas nunca centrado.
Sua vida da uma reviravolta no ano anterior a história, com a assinatura do contrato com uma editora de livros, e logo quando vê já é conhecido mais ainda, assistente de Fujita no outro ano e com seu livro pertinho de publicar, a missão mórmon dele também estava chegando. Mas, ele conhece, Tanner Scott, e tudo fica pior, mais confuso e sem saber para onde ir. As coisas começam a ficar realmente interessantes quando Sebastian, toma a iniciativa de sair com Tanner, ser namorado dele, mas tudo as escondidas, ali se da para perceber que sua confusão, é o que deixa Tanner fora de si. É um assunto complexo, ele não queria desistir de sua fé, e família, nem ser abertamente gay e não poder casar com Tanner e ser eternamente solteiro (política mórmon apresentada no livro para pessoas LGBTQI+). Entretanto, ele queria Tanner, estar com ele e ter uma vida com ele. Sebastian poderia ser uma publicação inteira no blog, mas eu acho melhor parar de falar dele agora, ou vou entregar mais ainda a história.
Autunm, é aquele suporte emocional para o casal, o que é uma pena, já que ela poderia ter sido muito mais, sabe? Tinha potencial, já que sempre esteve apaixonada por seu melhor amigo, e no primeiro e único término de Tanner e Sebastian, ela e Tanner acabam transando e ela perde a virgindade com ele. Teria sido um assunto interessante de se ver falar mais pela visão dela, acho que ficou escasso nisso, entendemos que Tanner Scott se sentiu culpado e que estava usando a melhor amiga, mas eu queria saber mais do que se passava na cabeça de Autunm. Ela também é uma personagem que não se tem contanto no meio do livro inteiro já que ela e Tanner brigaram feio, se é mencionada. Triste, merecia mais.
A família Scott, é em todos os sentidos da palavra, interessante. A mãe é uma ex-mórmon, que abdicou a religião para casar com o marido, um judeu que não era de seguir muito a própria religião. E, ah, tem a irmã caçula de Tanner que as vezes ela ajuda no enrendo, as vezes ela só existe, mas ainda é uma parte estranhamente importante da personalidade do principal.
A família Brother, é em todos os sentidos da palavra, preconceituosa. O pai é o Bispo da igreja mórmon da cidadezinha, então ele é extremamente conhecido e segue a risca os dogmas da sua religião, chegando a ser preconceituoso. A mãe, é uma porta! Mas a única que mostrou, algum tipo de apoio ao fato dele ser homossexual. O fato dele ser o mais velho de alguns irmãos (não me lembro, de verdade, quem são), muda pouquíssima coisa na história, esse fato, só o faz ser mais responsável, mas os irmãos de Sebastian Brother não fazem diferença para a história, pois eles são somente mencionados e ajudaram, no passado do personagem, a construir quem ele é durante a linha temporal da história.
Conclusão: Um livro ótimo, enredo bom, romance básico que todos gostam, e extremamente importante para a representatividade da comunidade LGBTQI+! Adorei a complexidade de Sebastian e como ela afetou Tanner e, por acaso, respingou em Autunm. Para mim, foi nota 5/5.
Sebastian é o personagem mais importante, sim!
Citação favorita do livro:
"Eu senti que era especial. Para mim, ela pareceu importante. Viver nesta cidade é sufocante de muitas maneiras.
Mas, se uma árvore cai na floresta, talvez, ela não faça barulho.
E, se um garoto tem uma paixão pelo filho não assumido do Bispo, talvez isso não faça uma história."
Mal sabia Tanner, que todos fazemos história.
Xoxo,
Fê.
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