Resenha: Céu sem estrelas, um livro sobre aprendizados e amor.
- Fernanda Cidade Gonçalves
- 1 de abr. de 2020
- 5 min de leitura
Contém Spoilers!
"Quando nos importamos com alguém que vive uma luta tão profunda contra seus próprios monstros, o medo de que algo esteja fora do lugar sempre bate à porta."

Um livro cativante do começo ao fim, é como pode ser descrito Céu sem estrelas, de Iris Figueiredo.
Nessa trama, vemos como Cecília, uma jovem caloura na universidade lida com vários dilemas pessoais, como: Abandono paterno, descaso da própria mãe, baixa autoestima, medo constante do abandono, automutilação e representatividade. E claro, como lida com seu amor por Bernardo, irmão de sua melhor amiga desde o fundamental, Iasmin. Porém, deixando o romance a parte, é um livro intenso que fala constantemente na narrativa sobre saúde mental.
Existem seis personagens importantes para a construção da Cecília que se vê no fim do livro, uma garota confusa, cansada, que procura de todas as formas tentar se feliz e se sentir amada. O livro é divido entre o ponto de vista de Cecília e Bernardo, personagens totalmente diferentes que se completam de uma forma quase, peculiar.
Bernardo tem problemas, todos tem, mas nenhum se compara aos de Cecília. Seus pais vivem brigando, e ele não quer ser dependente do dinheiro da família.
Cecília não tem pai, uma mãe que constantemente a despacha para a casa da avó e zero dinheiro na conta bancária depois de ser demitida da livraria que trabalhava.
Não desmerecendo um para dar créditos ao outro, mas o fato de serem tão diferentes é o que torna o romance deles extremamente interessante, por não ser só isso. É muito mais, não é sobre o casal, mas sobre como a vida pode ser dura e complexa, como a mente do ser humano e seus sentimentos não são fáceis de serem compreendidos e que é necessário imensa dedicação.
"Mas você não precisa entender as pessoas sempre. Ninguém consegue, por mais que tente. Mais do que compreensão, as pessoas buscam apoio, ou ás vezes só alguém disposto a ouvir."
Essa é uma parte de um diálogo muito importante que Bernardo tem com sua mãe, mesmo que estivessem falando de profissões, se aplica a situação dele com Cecília - qual não pretendo falar por ser um baita spoiler -, e faz muitas coisas mudarem nos pensamentos do personagem, nesse momento se pode ver que ele amadureceu o necessário para entender todos os dilemas e monstros de Cecília sem julgar ela. E enquanto isso, Cecília passava por uma barra pesada, totalmente perdida em si mesma, não por causa de um menino, mas por causa de sua complicada estrutura familiar. Por não saber onde pertence.
Todos já passamos por esse caminho que Cecília trilha do meio do livro ao final, alguns por um longo período de tempo e outro por um mais curto. Mas todos já fomos ela e importante reconhecer isso.
E também já fomos Bernardo, perdidos em outro sentido, sem saber como ajudar para amenizar a dor de quem amamos.
Durante a trajetória desse casal, existem várias outras historias acontecendo ao mesmo tempo, e vou pontuar algumas, e como elas desenvolvem o caráter dos principais.
O amigo de Bernardo decide trancar a faculdade.
Esse foi um momento chave para que Bernardo começasse a se questionar, perguntar-se vários "se's" que ele nunca tinha se atrevido ficar pensando.
Iasmin começa um namoro tóxico.
Irmã de Bernardo e melhor amiga de Cecília, Iasmin é uma personagem ativa na história, e por isso tem sua própria história acontecendo no meio da narrativa turbulenta dos principais. Começa seu namoro com uma paixonite de colégio, Ótavio, logo no momento que o relacionamento do casal principal enfrenta uma crise.
É uma linha de história importante, pois além de conscientizar os leitores sobre como a vítima demora para perceber ser a vítima de um relacionamento abusivo, é onde Iasmin e Cecília se distanciam pela primeira vez em anos e Bernardo percebe que não quer ser aquele tipo de cara e que não quer ver a irmã mais nova sofrendo nas mãos de um. Também é nesse momento que Iasmin constantemente lembra o irmão os motivos pelos quais ele não tem mais estabilidade com Cecília.
Um relacionamento que muda três personagens ao mesmo tempo, mostrando como eles podem amadurecer de forma amarga durante a história, mostra como é doloroso ver alguém que você ama sendo constantemente destratado e controlado e reprimido.
Muitas coisas mudam a partir desse ponto.
Stephanie e Rachel viram amigas.
Stephanie é uma amiga de Cecília que conquistou durante o trabalho na livraria, e Rachel é sua melhor amiga desde o fundamental, assim como Iasmin.
Antes, era um trio, mas com Stephanie as coisas mudaram. E para melhor se posso dizer.
A amizade de Stephanie com Rachel, é onde Cecília tenta encontrar uma forma de estabilizar, quase que momentaneamente, suas conturbadas emoções, já que, segundo a principal: "Ver meus dois ciclos sociais em harmonia me deixa feliz."
" Alguém falou sobre o horário. Eu havia perdido a noção do tempo. Olhei para o relógio na parede da cozinha e vi que eram sete da manhã. O dia anterior passara num borrão. Tudo que conseguia lembrar era do céu sem estrelas."
Uma citação que mexeu comigo foi essa. Uma das várias. Mas essa foi bem intensa, já que além de descrever um momento importante na vida dos principais, especialmente Cecília, é uma ótima metáfora para o sentimento de abandono. Quando não se consegue nem se ver mais as estrelas no céu, pois só se foca naquilo, aquele buraco no peito.
A situação que antecede essa frase, foi motiva pelo grande e incessável medo de Cecília de ser abandonada, então, acho que minha comparação não é lá muito errada.
" — Não existe um céu sem estrelas, Cecília. Mesmo quando estão cobertas pelas nuvens, ainda estão lá. A gente só não consegue enxergar.
— É como a esperança — Ela comentou, pensativa. — Sempre existe uma saída, mesmo que a gente não consiga enxergar.
— Sim, sempre existe uma saída. Sempre existem estrelas."
O diálogo acima de Bernardo e Cecília foi um que me deixou abalada, pois retrata algo que admiro muito. A esperança, e a escritora, Iris Figueiredo, soube muito bem retratar ela nos personagens durante esse momento, que além de retratar a esperança, mostra que a conexão do casal é bem mais intensa e complexa do que se pode ler, foram personagens bem criados e desenvolvidos que, no final, é impossível não se apegar a eles.
Sinceramente, no começo quando comecei a ler o livro, peguei ele no Kindle por ser de uma escritora nacional, não pesquisei nada sobre ele antes, só comecei a ler e achei que seria mais um daqueles romances água com açúcar que eu amo. Mas foi o total oposto, e fiquei impressionada e encantada com a escrita cativante de Iris, era quase como se eu fosse uma parte da vida daqueles personagens tão humanos.
Com toda certeza, é um livro 10/10, que voltaria a ler novamente sem qualquer problema, de tão boa que a leitura foi. Retratou assuntos importantes e pesados com uma escrita que passa leveza, um dom conseguir isso.
Minha citação favorita é definitivamente o diálogo acima!
A menagem do livro é: Tudo passa, com ajuda e com pessoas que você ama e que te amam, as coisas passam e ficam mais leves de lidar, mesmo que no começo não pareça.
Xoxo,
Fê.
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